quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O PODER DO RÁDIO I




O poder da rádio, é incontornável. Ainda hoje, e com todo o tipo de novas tecnologias que estão ao nosso alcance, não a dispensamos. Quantos de nós, no caminho para o trabalho, ao volante do carro, se dão conta de que estão a cantar ao som da musica :)) Eu faço-o frequentemente.


Outro exemplo, é o ouvir a locução de futebol enquanto vemos a emissão televisiva. Eu não dispenso de ouvir o " Gooooooooooooooooollll" pela rádio.




Bem, são manias, mas o que é inegável mesmo é O PODER DA RÁDIO !!!! (Veja este vídeo).

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


Havia os Beatles no meio caminho

Ritmos que podem mudar os rumos de quem pega e dá carona

Texto: Mirna Bom Sucesso


Maurício e Ananda estavam separados por poucos metros, mas tinham aquela sensação de distância de quem vive em desconhecimento. Falavam pouco, cruzavam olhares apenas quando se cruzavam nos corredores. As palavras, também poucas, só circulavam por questões práticas: compra, venda, crise financeira. Mas a vida não sossega com o sossego.Na última quarta-feira, seguindo a onda do planeta, a empresa de Maurício lançou a campanha Carpoolers, e prometeram um laptop a quem desse ou pegasse mais carona no mês de novembro. Maurício resolveu superar o medo de envolvimento e convidar Ananda para fazerem o percurso casa-trabalho, trabalho-casa juntos. Moravam no mesmo bairro, podia ser uma boa idéia.“E se a gente revezasse? Uma semana, com meu carro; outra, com o seu. A gente iria economizar combustível, seria um carro a menos na rua e tal...”.Ela não deu resposta de imediato. Pediu pra pensar. Aquela proposta a pegara desprevenida. Era muita intimidade esse negócio de carona. Sobre o que falariam? O que evitariam dizer? Que rádio ele ouviria, preferiria música ou notícias? Ela só ouvia Beatles, era a única coisa que a acalmava nos congestionamentos. Let it be, então, era o hit anti-barbeiro. O receio dela acordou o dele. Nenhum dos dois dormiu bem naquela noite. E se ela criticasse o jeito de ele dirigir? Estava pra nascer coisa mais odiosa que passageiro palpiteiro. E, claro, ela se sentira no direito, pois estaria rachando o combustível. O arrependimento as três da madruga tem um terror especial, talvez porque metade do mundo esteja no escuro; talvez porque, em contrapartida, os erros, dores e solidão brilham como a luz do sol. Um maldito laptop valeria esse sofrimento? Ele rezou para que ela recusasse.Mas Ananda aceitou. Justo naquela semana ela havia feito uma promessa ao arcanjo São Miguel de não recusar nada de decente que o destino lhe propusesse, isso em troca de uma surpresa que mudasse a vida morna que levava. Por isso, na primeira cruzada de olhares com Maurício no dia seguinte, concordou: “sim, pode ser uma boa idéia”, começamos amanhã.Ele deixou o carro para lavar, escondeu no porta-luvas coisinhas jogadas nos porta-trecos. Na correria para colocar tudo em ordem, se estranhou: “pra que tanto cuidado?”. Nada. Só queria oferecer um ambiente agradável.Ela acordou mais cedo, fez uma escova no cabelo, se perfumou, colou um vestido que realçava a cruzada de pernas. Depois se achou meio ridícula, “pra que tudo isso?” Nada. Só queria ser uma carona agradável.Day after. O cheiro de carro limpo causou boa impressão nela, que retribuiu a gentileza jogando as pernas levemente para o lado. A fenda da saia escorregou pelo joelho, revelando pernas dignas de desconcentração. Vermelho, surpreso consigo mesmo, ele ligou o rádio. “Você ouve algum programa em especial, Ananda?”. “Eu? Ah, não. Detesto ouvir más notícias logo pela manhã.”Ele sorriu, comovido. Também odiava. “Vou arriscar uma música, vamos ver se você aprova”. Logo nos primeiros acordes, ela saltou do banco, não fosse pelo cinto de segurança, tinha escapado pela janela. “É Beatles! Eu amoooooo Beatles! Você gosta?”Ele riu surpreso, “como assim, ‘você gosta?’ Eu que te ensinei a gostar dos Beatles. Se lembra da primeira vez que saímos? Passamos a noite naquele drive-in da Marginal ouvindo And I love her”.Puxa vida, era verdade. Há 10 anos juntos, ela tinha se esquecido dos detalhes que os aproximaram. Coisa esquisita foi aquele reconhecimento. Há 10 anos, ela ligou para a mãe e deu a esfarrapada desculpa de que dormiria na casa de uma amiga.Eles cruzaram olhares, agora por mais tempo. Sem explicações, ela sacou o celular ao mesmo tempo em que ele. Desligaram o som. Treinaram uma voz trêmula para falar com os respectivos chefes. “Meu marido está doente, preciso levá-lo ao pronto-socorro. Sinto muito, não poderei ir ao trabalho hoje”. “Minha esposa está doente, preciso levá-la ao hospital, acho que é uma virose grave. Não poderei ir ao trabalho hoje”.Depois riram juntos da travessura. E nem pensaram duas vezes no caminho a seguir. Drive-in da Marginal. Havia muito do que serem curados.